Entrevista de Loukianos Stathopoulos a Alexander Batov da Frente Operária Russa

1 – O que aconteceu no conflicto interno no PCOR (Partido Comunista Operário Russo) e no conflicto interno na RKSM(b) [União da Juventude Comunista Revolucionária (bolchevique)]? O PCOR tornou-se igual ao PCFR (Partido Comunista da Federação Russa)?

O conflicto interno no PCOR está a formar-se há muito tempo. Nos últimos dez anos, o partido levou às costas uma série de problemas:

  • nenhum estudo ideológico;
  • política de quadros ao estilo menchevique;
  • desejo de entrar no parlamento a qualquer custo, mesmo sacrificando o trabalho com o movimento operário;
  • tendência para o patriotismo russo.
    7-8 anos atrás, pensamos que poderíamos consertá-lo, então continuamos a lutar pela sanidade do partido, mas os problemas foram-se desenvolvendo rapidamente. A guerra na Ucrânia catalisou a inclinação do partido para a direita, para o apoio à “própria” burguesia.
  • Publicamente o PCOR ainda critica o PCFR, mas na verdade ele é apenas o seu apêndice (algo que ficou claro na reunião em Havana), enquanto o próprio PCFR é um apêndice das autoridades russas.

Por muito tempo a RKSM(b) esteve em um estado muito debilitado, pois falhou na reprodução do quadro de funcionários e na criação de uma estratégia de trabalho actualizada. Além disso, descobriu-se que os líderes do PCOR não estavam interessados no desenvolvimento da organização juvenil. Eu, como responsável pela política de juventude, propus repetidamente medidas para tirar a RKSM(b) da crise, mas sempre enfrentei recusas. Quando em algumas regiões os activistas locais do PCOR ajudaram a restabelecer células da RKSM(b), os líderes do PCOR enfrentaram essa actividade com cautela e começaram a interrompê-la. Eles queriam garantir a sua posse da própria marca da RKSM(b), em vez de deixá-la agir de forma mais significativa. Essa contradição, assim como a contradição em relação à visão sobre a guerra, foi a causa do conflito entre o partido e a sua organização de juventude. A célula da juventude em São Petersburgo (Leningrado), estando sob controle total dos líderes do PCOR, tentou sabotar o trabalho da RKSM(b) e eventualmente foi excluída da RKSM(b).

Após o início da guerra, os membros da RKSM(b) deixaram o PCOR. Agora a organização juvenil existe de forma independente.

2 – Como o conflicto militar na Ucrânia mudou a situação na Rússia?

A guerra aumenta as tendências do fascismo na Rússia. Claro que entendemos o fascismo cientificamente como um regime terrorista aberto pela facção mais reacionária da classe capitalista. O imperialismo (capitalismo monopolista) foi formado na Rússia em início do século XXI sobre os destroços da indústria soviética, que já se concentrava graças à economia planificada.

Agora o imperialismo usa a força descaradamente para reprimir não apenas os protestos, mas também a dissidência. Comícios de massas e manifestações (excluindo as pró-governo) há muito são proibidas. Aqueles que criticam o governo, enfrentam processos em tribunal (muitos factos são fornecidos na declaração da RKSM(b): https://rksmb.org/english/statement-of-the-central-committee-of-rksmb-on-the-eve-of-the-possible-outbreak-of-the-third-world-war/. Os média de massas impulsionam activamente o chauvinismo, o monarquismo e o nacionalismo. A empresa militar privada “Wagner” gaba-se abertamente de assassinatos; é bastante possível que no futuro esses criminosos se tornem uma força de ataque contra o movimento popular. A sociedade ainda está chocada com o que está a acontecer e está paralisada pelo medo, o que permite que a classe dominante continue a sua política.

3 – Tenho a experiência de sair de um partido comunista que não é mais um partido comunista de verdade e não acredito que os meus 22 anos como membro daquele ex-partido comunista foi apenas um grande erro e um desperdício de tempo porque aprendemos muito com ele. Vejo a tua experiência no PCOR como ainda melhor do que a minha. Como avalias a história do PCOR enquanto lutaste dentro dele e o que aprendeste com isso?

Claro, aprendi muito no partido. O meu trabalho na RKSM(b) e no PCOR permitiu-me obter uma experiência inestimável na política e obter capacidades organizacionais em muitas áreas: desde a construção partidária até à participação nas eleições, desde o trabalho internacional à distribuição de folhetos nas fábricas. Em alguns casos (ou melhor, na maioria dos casos, à medida que acontecia) eu tinha que aprender no terreno da “contradição”, ou seja, vi erros de camaradas do partido e, eventualmente, desenvolvi a minha abordagem alternativa a um problema após diálogos mal-sucedidos com eles.

Na viragem do século XXI, o PCOR jogou o seu papel progressista. Hoje o partido foi longe de mais e chegou ponto de não retorno, reduziu-se ao nível de um pequeno grupo de simpatizantes da “própria” burguesia. De qualquer forma é útil estudar a sua história, pelo menos para aprender com os seus erros.

4 – O que era a ROT Front e o que se tornou a ROT Front desde a separação do PCOR?

Inicialmente, a ROT Front foi fundada para atingir três objetivos inter-relacionados:

  • estabelecer uma base legal para o PCOR e os seus aliados;
  • ligar o movimento comunista ao movimento operário;
  • atrair os trabalhadores para a política.

A ROT Front foi declarada uma ampla coligação de classes, ao contrário de uma organização comunista. Mas os líderes do PCOR falharam em encontrar as formas correctas de construí-la e geri-la. Junta-se a isto um impedimento de registro da ROT Front regularmente pelas autoridades, esta luta durou 2,5 anos.

Como resultado, após alguns anos, a maioria dos aliados deixou a coligação e a própria ROT Front projectou uma imagem de uma marca alternativa do PCOR. Era essencilalmente verdade. Desenvolveu-se uma situação paradoxal: por um lado, a ROT Front tinha bons meios de comunicação (site, YouTube, redes sociais, etc.) criados pela juventude; por outro lado, a ROT Front como organização não existia há muitos anos.

Em 2020 a ROT Front foi privada de registro e deixou de existir legalmente. Os acontecimentos seguintes mostraram que os líderes do PCOR apenas se escondiam atrás de slogans de “classe”, mas na verdade queriam usar a marca da ROT Front para fazer acordos sem princípios para participar nas eleições parlamentares. Por exemplo, os líderes do PCOR negociaram com vários populistas e nacionalistas, convidaram-os a recriar juntos a ROT Front, prometendo em troca publicitá-los nos média partidários. Enquanto isso, os média da ROT Front ficaram mais fortes e atrairam mais seguidores.

Quando a guerra estourou e o fim de relações com o PCOR se tornou óbvio, os nossos activistas se depararam com a questão: o que fazer a seguir? Se deixarmos os média da ROT Front para os líderes do PCOR – que traíram o programa do próprio partido – isso significará que traímos os nossos milhares de seguidores que veem em nós um farol político.

Naquela época, entendíamos claramente como o PCOR costuma usar a marca da ROT Front para manipulações políticas prejudiciais. Sair dos nossos média significaria uma contribuição para essas manipulações e um dano para o movimento operário. É por isso que decidimos: os média devem pertencer a quem oito anos trabalhou neles e encheu a imagem da ROT Front com conteúdo político. Decidimos recriar a ROT Front como um verdadeiro movimento de classe dos trabalhadores. Hoje é a Frente Operária Russa (RTF).

5 – Podes nos dar uma visão geral dos sindicatos russos, da esquerda e dos partidos e organizações que chamam a si próprios de comunistas e marxistas?

Oficialmente, o maior sindicato é a Federação dos Sindicatos Independentes da Rússia (FNPR). Mas na verdade não é um sindicato, mas sim uma alavanca capitalista para dominar os trabalhadores. Os sindicatos da FNPR têm carácter apenas formal: a maioria dos trabalhadores, inclusive, não é ciente de que estão lá filiados. Com raras excepções, esses sindicatos ficam do lado do empregador em todos os conflictos.

Os sindicatos mais progressistas e realmente combativos estão na Confederação do Trabalho da Rússia (KTR). A maioria dos casos de luta sindical no país vêm da KTR. No entanto, se os seus activistas apoiam principalmente o socialismo, os líderes da KTR preferem permanecer moderados e deixar que as autoridades russas os controlem.

Existem também alguns sindicatos industriais e associações sindicais federais menores. A esmagadora maioria dos trabalhadores russos não são membros de sindicatos (excepto a filiação cerimonial na FNPR). A maioria dos trabalhadores partilha as opiniões mais loucas sobre a actividade sindical.

No que diz respeito ao movimento de esquerda russo, ele é fraco e fragmentado. Na minha opinião, é justo: se o movimento operário é fraco, então os comunistas não podem ter apoio de massas.

Ao mesmo tempo, um número comparativamente grande de jovens está interessado no marxismo, e muitos jovens montam círculos para estudá-lo. Para alguns deles, as aulas nesses círculos tornam-se um fim em si mesmo, uma forma de socialização, nada mais. No entanto, alguns círculos marxistas concentram-se na prática, então nós esforçamo-nos para encontrar um terreno comum com eles.

6 – Eu acredito que a União Soviética foi o ponto mais alto da história da humanidade e do planeta terra. O tempo é uma coisa relativa, é verdade que a história só pode avançar no sentido prático, mas num sentido fundamental de progresso vejo a Rússia e todos os ex-países soviéticos e ex-socialistas a retroceder. Então eu olho para a União Soviética e essencialmente vejo o futuro da humanidade. Como os comunistas russos continuam a aprender com a União Soviética?

A questão da URSS é complicada. Por um lado, há um crescente interesse pela história e pelas realizações da URSS entre um certo segmento da juventude russa. Por outro lado, a propaganda burguesa é flexível a reagir às atitudes do público e constantemente ajusta os seus instrumentos de anti-comunismo, a propaganda anti-soviética.

Se há 20-25 anos a burguesia empregava métodos directos e ostenvivos e eram amplamente sem sucesso, então hoje ela age com um maior grau de astúcia. Depois de observar que a população simpatiza com a URSS, a burguesia esforça-se para explorar esses sentimentos e adaptá-los aos seus próprios fins. Antes do início do guerra em curso, apresentava a URSS como uma “página vazia” da história russa, como um período histórico particular durante o qual todas as conquistas foram alcançadas, apesar dos comunistas e do seu governo.

No entanto, após o início da guerra, essa abordagem foi modificada. Agora a URSS é promovida como essencialmente outra encarnação do Império Russo, como um Estado forte e centralizado com um poderoso exército capaz de esmagar os seus inimigos.

A consequência dessa propaganda foi o facto de que, além do interesse genuíno pela União Soviética e consciência do seu carácter socialista, agora existem várias formas de “patriotismo” soviético e revanchismo. Essas tendências negam a natureza de classe da URSS e se concentram em elementos individuais úteis para a burguesia. Essas são tendências nocivas e reacionárias.

7 – Como vês Stalin e toda a campanha denunciando-o como um tirano?

Eu não tenho uma veneração por Stalin e não considero as suas decisões teóricas e práticas como impecáveis. Certos erros teóricos e práticos foram cometidos. Mas que forma costuma assumir a crítica a Stálin? Muitos críticos – mesmo aqueles que se consideram “de esquerda” ou “marxistas” – dispensam completamente o marxismo quando considerando o período histórico durante o qual Stalin viveu.

De acordo com a sua análise, as tomadas de decisões de Stalin foram um processo totalmente arbitrário, não foram limitadas por quaisquer factores ou condições externas, e todo o curso da sociedade era guiada pelas suas qualidades pessoais. Esta é uma visão ridícula dos processos sociais, que já tinha sido desmascarada em detalhe por Plekhanov. Obviamente, mesmo durante o tempo de Stalin, uma variedade de factores objetivos restringiu possibilidades de desenvolvimento, exigiu que os recursos fossem direcionados para esta ou aquela prioridade e exerceu influência sobre a teoria e a prática. Se alguém estudar a história da URSS mais profundamente, torna-se evidente que em todas as décadas de existência deste Estado, a sociedade soviética continuou a experimentar a luta de classes em várias formas e continuaram a existir problemas graves que não podiam ser resolvidos simplesmente por decreto ou por magia.

Stálin era um líder que se posicionou em defesa do processo de construção do socialismo e lutou contra diversas tentativas de enfraquecer este processo. Tenho uma visão crítica de Stalin (como de qualquer outra figura histórica), mas, no geral, considero que seu papel foi positivo.

8 – Algumas pessoas, eu acho, reduzem Stalin às tácticas da frente popular e à dissolução do Comintern e outras redescobrem a tão demonizada classe contra classe e a crítica de Stalin ao titismo, às soluções de mercado no socialismo e a advertência de Stalin contra o nacionalismo na China após a revolução chinesa. Essas tendências soam como lados opostos, especialmente quando usadas para avaliar a China de hoje. Achas que os defensores do imperialismo chinês manipulam e distorcem o legado de Stalin?

Stalin é uma figura histórica importante, alguém que continua a ser impossível de ignorar. Enquanto os imperialistas inequivocamente vêem Lenine e Stalin como os demónios do inferno, uma variedade de outras forças, incluindo aquelas que camuflam as suas verdadeiras intenções com bandeiras vermelhas, usam uma variedade de métodos para se apropriar e explorar esses nomes.

Eu não estou ciente dos exemplos específicos do uso do nome de Stalin por partidários do imperialismo chinês, mas suponho que certamente eles o usam para os seus próprios fins.

9 – Alguns dizem que a União Soviética tornou-se capitalista a partir do XX congresso do PCUS em 1956 com a linha política revisionista de Khrushchev e a chamada “desestalinização”, mas das obras de alguns partidos comunistas e até mesmo de fontes burguesas, deduzo que a KGB e as forças armadas soviéticas mantiveram um papel revolucionário e internacionalista até o fim da União Soviética, a partir das intervenções na Hungria em 1956, na Checoslováquia em 1968, em Angola em 1975 e no Afeganistão em 1978 (e também o apoio ao Vietname em 1979 contra a invasão chinesa) até à destituição de Khrushchev em 1964 e a tentativa de depor Gorbatchov em 1991. Como avalias a luta de classes na União Soviética de 1956 até ao fim da União Soviética?

É totalmente incorrecto acreditar que um sistema socio-económico pode mudar num piscar de olhos após a adopção de uma resolução ou outra no 20º Congresso do PCUS. É impossível reestruturar as relações de produção com um simples decreto. Além disso, é importante entender que qualquer sistema socio-económico não é um fenómeno estático mas sim um processo em constante evolução.

Como observado acima, a luta de classes continuou na sociedade soviética ao longo de toda a história da URSS. Depois da destruição das velhas hierarquias de classe, continuaram a existir estratos sociais cujos interesses egoístas estavam num estado de contradição com o desenvolvimento do socialismo. O surgimento desses estratos foi consequência não apenas dos inevitáveis efeitos colaterais das difíceis condições em que a Rússia soviética foi forçada a existir, mas também dos problemas não resolvidos e erros na construção do socialismo soviético.

Os debates económicos de 1951 revelaram a influência significativa da chamada tendência “orientada para o mercado”, bem como o nível geralmente medíocre de conhecimento ideológico e teórico dos economistas soviéticos. No final da década de 1950, uma posição dominante foi conquistada por forças objectivamente interessadas em retardar o desenvolvimento do socialismo (independentemente de sua própria auto-percepção). Eles começaram a “melhorar” o socialismo por meio de medidas orientadas para o mercado. Deste momento em diante o socialismo iniciou um caminho de degradação, à medida que as relações capitalistas de produção começaram a se desenvolver em seu seio.

Apesar disso, uma super-estrutura socialista continuou a existir até ao final da década de 1980 e só foi destruída por uma contra-revolução. Assim, a percepção de que o socialismo foi “cancelado” pelo XX Congresso do PCUS é incorrecta.

10 – Acho que aprendo muito com os filmes soviéticos a nível ideológico e político e na minha opinião são 3 as suas principais fases: época de Lenine e Stalin de 1917 a 1956, a época de Khrushcev e Brejnev de 1956 a 1979 e a viragem da contra-revolução na cultura de 1980 a 1991. É importante referir a “desestalinização” na época de Khrushchev de 1956 a 1964 mas acho que isso foi resistido por artistas e eventualmente abandonado. Qual é a tua visão geral da história dos filmes soviéticos e o que podemos aprender com eles?

Não sou especialista na área de cinema e da sua história, e não posso fazer comentários qualificados sobre o assunto. No entanto, na minha opinião, podemos identificar vários estágios distintos de desenvolvimento no cinema soviético.

O período da década de 1920 até ao início da década de 1930 foi de experimentação criativa, que lançou as bases para o cinema socialista, resultando em obras-primas como “Encouraçado Potemkin”.

Na segunda metade da década de 1930, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, houve uma viragem para o patriotismo; muitos filmes históricos foram produzidos, destacando episódios de resistência heróica do povo russo contra invasores estrangeiros.

O final da década de 1940 até a década de 1950 marcou o ponto auge do cinema “stalinista”, que tentou pintar um quadro de uma existência feliz e alegre e examinou as relações na perspectiva da construção do socialismo.

Na década de 1960, a meu ver, o cinema começou a focar mais em questões de liberdade individual e desenvolvimento pessoal, mas como um todo continuou ao longo do curso destacando os imperativos sociais socialistas.

No entanto, a partir da década de 1970, mais e mais atenção foi dedicada a problemas mundanos e ansiedades pessoais, enquanto os problemas sociais existentes começaram a ser apresentados como factos da vida, ao invés de áreas de luta. Consequentemente, em todo o meio criativo pode-se observar o triunfo do individualismo e das atitudes burguesas.

O cinema soviético reflecte bastante os processos dentro da sociedade soviética em diferentes períodos, por isso é útil estudá-lo.

11 – Tens números ou alguma ideia de quanto estudantes estrangeiros se beneficiaram com os estudos gratuitos e acomodação gratuita na União Soviética e nos seus aliados do bloco socialista ao longo da sua história? E quanta da riqueza da União Soviética e dos países do bloco socialista foi compartilhada com a classe trabalhadora mundial e com os países que se tornaram aliados do bloco socialista? Como isso se compara com a chamada “ajuda” da China de hoje aos países pobres?

Não possuo tais dados, mas sei que a contribuição da URSS para o movimento comunista internacional foi enorme. E essa contribuição não foi só por meio de dinheiro e outras coisas, mas por meio de cultura. Eu lembro-me deste episódio: há oito anos atrás eu visitei a Síria devastada pela guerra. Um camarada, que me acompanhou em Damasco, disse-me então que todas as famílias sírias tinham livros de literatura clássica mundial em árabe, publicados pela editora soviética Progresso. Em alguns anos, a Progresso sozinha publicou mais obras de literatura em árabe do que todo o mundo árabe.

No caso da China, a sua “contribuição” é em primeiro lugar por interesses do capital. Pode-se também fazer reivindicações sobre o papel “civilizador” do Império Britânico, que nas suas próprias colónias estendeu a rede rodoviária, edifícios construídos e outras coisas úteis.

12 – A Rússia precisa de um novo e verdadeiro Partido Comunista?

Definitivamente sim e continuamos a trabalhar nisso.

13 – Os comunistas e os partidos comunistas do mundo precisam de uma nova internacional comunista? Como vês a crise actual no movimento comunista internacional?

Sem dúvida, o mundo precisa de uma nova internacional comunista. Mas uma simples declaração não o criaria. As circunstâncias para o desenvolvimento da luta de classes devem crescer o suficiente para ajudar os partidos comunistas a se unirem. Até aqui não existem tais circunstâncias, o movimento comunista internacional está actualmente em crise. Durante os últimos 10-15 anos nós observamos dois polos a surgir no movimento: o revolucionário e o revisionista. Infelizmente, os revolucionários estão actualmente em minoria, pois o equilíbrio de forças na luta de classes é desfavorável.

A crise só pode ser superada por um reforço de capacidades e medidas de contra-ofensiva no contexto desta luta.

14 – Eu acredito que durante a União Soviética as então nações soviéticas começaram a perder as suas nacionalidades, primeiro e principalmente a Rússia, e começaram a se tornar o povo soviético. O povo soviético não era apenas uma nacionalidade como qualquer outra, o povo soviético era e ainda é o futuro da humanidade. Qual é o teu comentário sobre isso?

Em primeiro lugar, gostaria de chamar a tua atenção para o clássico “Marxismo e a questão nacional” de Stalin. Eu o considero muito útil para tentar examinar esta questão.

Em segundo lugar, é importante notar que a fusão das várias nacionalidades da URSS em uma única nação não se deu pela assimilação total desta ou daquela nacionalidade, mas foi realizada com escrupulosa preocupação com o seu património cultural e a sua diversidade. O “multiculturalismo” burguês também promove a diversidade e a ostenta como uma espécie de conquista, mas o capital é incapaz de garantir condições para o desenvolvimento multifacetado de cada grupo nacional. Em contraste, no socialismo a base económica para o nacionalismo é minada, os obstáculos para o desenvolvimento de cada indivíduo independentemente da nacionalidade desaparecem, ao mesmo tempo que se criam condições para o surgimento de um povo unido, que respeita a história e a cultura de todas as suas nacionalidades constituintes.

É claro que os cidadãos soviéticos tinham os seus defeitos, mas certamente que foi um passo na direcção certa. Ao mesmo tempo, a degradação do socialismo na URSS também levou à degradação do povo soviético. A adopção de mecanismos de mercado na economia gerou competição inter-setorial e inter-regional, que por sua vez deu vida a atitudes nacionalistas. Pontos de atrito entre várias nacionalidades já existiam antes da “perestroika”. E a contra-revolução foi acompanhada de muitos conflictos entre grupos nacionais, alguns dos quais continuam a deflagrar até hoje. Portanto, enquanto o socialismo ajuda a unir as pessoas em uma única comunidade, o capitalismo, pelo contrário, divide as nações e as coloca umas contra as outras. Um exemplo ilustrativo disso é a guerra actual na Ucrânia.

A humanidade está agora na fronteira além da qual restam apenas duas opções: o socialismo ou a aniquilação total.

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